A expansão marítima e as primeiras tentativas de colonização do Maranhão

A história do Maranhão no século XVI está intrinsecamente ligada ao processo de expansão marítima europeia, impulsionada pela transição do feudalismo para o capitalismo comercial. Nesse período, potências como Portugal e Espanha lançaram-se ao mar em busca de metais preciosos, especiarias e novos mercados, inaugurando uma era de descobertas e conquistas. O Maranhão, com sua posição geográfica estratégica e riquezas naturais, tornou-se alvo de disputas, embora suas primeiras tentativas de colonização tenham sido marcadas por fracassos e desafios.

Mapa Brasil (Século XVI)
Mapa Brasil (Século XVI) Fonte: Acervo do Conhecimento -ACH (2017)

A expansão marítima e o contexto europeu

A expansão marítima europeia foi resultado de profundas transformações ocorridas na Baixa Idade Média. A crise do sistema feudal, impulsionada pelo renascimento do comércio e pelo crescimento das cidades, levou ao surgimento dos Estados Nacionais e à ascensão da burguesia. Nesse contexto, países como Portugal e Espanha buscaram superar suas crises internas através da exploração de novas rotas e territórios.

Portugal, em particular, destacou-se por sua posição geográfica privilegiada e por avanços náuticos, como o desenvolvimento da caravela. A centralização política, consolidada após a Revolução de Avis (1385), e o apoio da burguesia ao projeto expansionista foram decisivos para o sucesso lusitano. Como afirmou Jean Bodin, teórico do mercantilismo, "ouro e prata constituem a riqueza de um país", e essa máxima guiou as expedições portuguesas.

Portugal e a corrida pelo Novo Mundo

A partir do século XV, Portugal iniciou sua expansão marítima, conquistando posições estratégicas na África e, posteriormente, alcançando o Oriente com a chegada às Índias em 1498. Em 1500, os portugueses desembarcaram no Brasil, marcando o início da colonização da América portuguesa. O Tratado de Tordesilhas (1494), assinado com a Espanha, garantiu a Portugal o domínio sobre terras a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, incluindo parte do território que viria a ser o Maranhão.

No entanto, o interesse inicial de Portugal estava voltado para o comércio de especiarias asiáticas e para as áreas auríferas da América espanhola. O Maranhão, embora estrategicamente localizado, não foi prioridade no projeto colonial português do século XVI.

As primeiras expedições ao Maranhão

As primeiras tentativas de colonização do Maranhão foram marcadas por fracassos e desafios. A denominação "período pré-colonial" (1500-1612) refere-se ao intervalo entre o descobrimento do Brasil e a efetiva colonização do Maranhão, que só ocorreu após a expulsão dos franceses em 1615.

A historiografia ainda não conseguiu precisar quem foram os primeiros europeus a alcançar o Maranhão. Vicente Yáñez Pinzón, navegador espanhol, é frequentemente citado como um dos primeiros a explorar a região, chegando ao rio Amazonas em 1500 e batizando-o de "Mar Dulce". Outros navegadores, como Diego de Lepe e Américo Vespúcio, também exploraram o litoral norte do Brasil, mas sem estabelecer colônias permanentes.

Em 1531, o português Diogo Leite reconheceu a costa norte do Brasil em uma expedição liderada por Martim Afonso de Sousa. No entanto, sua embarcação naufragou na foz do rio Gurupi, no local conhecido como "abra de Diogo Leite". Em 1534, o Brasil foi dividido em capitanias hereditárias, e parte do território do Maranhão foi doada a João de Barros, Aires da Cunha e Fernão Álvares de Andrade. A expedição organizada por eles em 1535, com 900 homens e 113 cavalos, fracassou após naufragar no Golfão Maranhense.

Outras tentativas de colonização, como as expedições de Luís de Melo e Silva (1554) e Pero Coelho (início do século XVII), também não obtiveram sucesso. A falta de um projeto estratégico para o Maranhão, aliada aos desafios geográficos e à resistência indígena, dificultou a ocupação da região.

Conclusão

As primeiras tentativas de colonização do Maranhão no século XVI refletem os desafios e as contradições do projeto colonial português. Enquanto Portugal buscava consolidar seu domínio sobre o Brasil, o Maranhão permaneceu à margem, sendo palco de expedições fracassadas e disputas esporádicas. A efetiva colonização só ocorreria no século XVII, após a expulsão dos franceses e a fundação de São Luís em 1612.

Referências:

BOXER, Charles R. O império marítimo português (1415-1825). Lisboa: Edições 70, 2001.

JOAN, Botelho. Conhecendo e debatendo a história do Maranhão. Fort Gráfica, 2007.

MEIRELES, Mário. História do Maranhão. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980.

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Colonial. São Paulo: Brasiliense, 1942.

Documentos do Tratado de Tordesilhas e relatos de navegadores como Vicente Yáñez Pinzón e Diogo Leite.