A maioria esmagadora dos eventos que moldaram a história da humanidade ocorreu antes da invenção da escrita, representando cerca de 99% de toda a trajetória humana. No entanto, utilizamos o termo "Pré-História" para descrever esse período. É importante entender o contexto em que esse termo foi criado no século XIX por historiadores europeus, que acreditavam em uma classificação dos povos com base no desenvolvimento tecnológico da escrita. De acordo com essa perspectiva, somente as sociedades que possuíam escritas eram consideradas detentoras de história.
Essa visão, infelizmente, levou à desvalorização das culturas que não desenvolveram sistemas de escrita, incluindo aqueles contemporâneos à época. Acreditava-se que apenas as sociedades que possuíam a capacidade de escrever poderiam ser pensadas como tendo uma história "legítima". Essa perspectiva refletia uma tentativa de exaltar as culturas europeias como sendo mais avançadas em relação às demais.
No entanto, hoje compreendemos que a escrita é apenas uma das várias fontes históricas disponíveis para estudar o passado. A história se baseia em uma variedade de fontes, como pinturas rupestres, esculturas de pedra, objetos de metal ou cerâmica, vestígios de fogueiras, sepulturas e fósseis. Essas evidências materiais representam como produções ou alterações realizadas pelos seres humanos na natureza e que permaneceram preservadas ao longo do tempo.
Apesar disso, continuamos utilizando o termo "Pré-História" didaticamente para nos referirmos ao período que abrange desde os primeiros grupos humanos até o envolvendo da escrita, por volta de 6000 anos atrás. Isso ocorre porque o termo já está estabelecido dentro do campo da história, mas carece urgentemente de modificações, pois perpetua a ideia e desvalorização dos povos sem escrita. Por isso mesmo, é essencial reconhecer que todas as culturas e povos, independentemente de possuírem ou não a escrita, formam a rica tapeçaria da história humana.
_____
Texto: Thiago Rosário